27 de abril de 2022
Postado por: Alexandre
Por: @FernandoRingel
Na Grécia Antiga e no Império Romano já se falava vox populi, vox dei (voz do povo, voz de Deus). Há muita discussão sobre a autoria da frase e se esta traduz a realidade, mas o fato é que ela está tão entranhada na cultura popular que um dos maiores institutos de pesquisa do Brasil se chama Vox Populi. No original mesmo, em latim. Como todo candidato usa essa frase em benefício próprio, as pesquisas ajudam a mostrar um quadro mais amplo sobre o que pensa o eleitor. Porém, deve-se lembrar que pesquisas são radiografias sobre o momento em que são aplicadas, não uma previsão para o futuro.
Quem dá as cartas?
Ao administrar a “máquina pública”, podendo dosar incentivos para a população conforme o que for acontecendo durante o ano eleitoral, o político no poder tem a vantagem do protagonismo na mídia. Portanto, a primeira via é o presidente. É ele quem dá as cartas, provocando situações e debates que reforcem suas qualidades. Sendo assim, a segunda via é seu principal oponente. Neste caso, Lula, que disputou sua primeira eleição presidencial em 1989 e tem o que na propaganda se chama de recall (lembrança). Para o lado positivo ou negativo, é um candidato que está “na boca do povo”.
Enfim, o início de campanha mostra quem tem eleitor cativo. Para os menos conhecidos, serve para o candidato provar se pode chegar ao segundo turno. Quem não consegue tem dois caminhos: vice em uma chapa mais forte ou disputar outro cargo.
Em cima do muro ou do Moro?
Obviamente, o ex-juiz da Lava Jato não conta com boa vontade no ambiente político. Se por um lado, ele é agredido pela esquerda, passou a ser visto como traidor por grande parte do eleitorado de Bolsonaro. Num partido pequeno, como o Podemos, diante de sua evidente inexperiência, atingir 9% das intenções de voto não foi de todo ruim. Desde a eleição de Lula, em 2002, fica claro que o eleitorado rejeita a figura do “político profissional”, personificada desde então pelos candidatos do PSDB. Aí, ao aceitar ser ministro da Justiça e entrar em conflito com Bolsonaro, para depois sair do governo, atirando, Moro se descredibilizou. Fez o que se esperaria de um político comum.
Neste contexto, dia 31, anunciou filiação ao União Brasil, junção entre o DEM e PSL, onde foi recebido de forma pouco amistosa. Membros importantes, como o candidato a governador da Bahia, ACM Neto, até tentaram impugnar sua entrada. Enquanto isso, o Podemos ameaça cobrar do União Brasil os R$ 4,9 milhões gastos na finada pré-candidatura à presidência do ex-juiz. Tudo muito confuso. Seu partido atual quer que ele dispute vaga como deputado, por São Paulo. Dizem também que pode sair para senador, mas aí é bem mais complicado. Eduardo Suplicy (PT) teve 4.667.565 milhões de votos em 2018 e ficou de fora. É esperar para ver, porque o deputado federal Alexandre Padilha (PT), no último dia 4, afirmou que vai tentar impugnar a candidatura de Moro. De acordo com o petista, ele nunca residiu em São Paulo. Enfim, caso consiga se candidatar como deputado, coisa que não quer, o ex-juiz vai disputar vaga com Eduardo Bolsonaro, Celso Russomano, Kim Kataguiri, Tabata Amaral, Carla Zambelli…
pode não ser tão fácil.
O que é a Terceira Via?
Na última terça, 12, Moro deixou oficialmente a corrida pela presidência. Seus votos provavelmente vão para Bolsonaro, enquanto alguma parte vai para a Terceira Via, que até o momento não tem forma definida, o que ajuda a explicar seu eleitorado ainda pequeno. O que se sabe é que A Terceira Via é um livro do sociólogo inglês Anthony Giddens, que defende uma forma de governo que una justiça social com desenvolvimento econômico, por meio do capitalismo. Seria assim no Brasil? O fato concreto é que para evitar a fragmentação dos votos, União Brasil (Luciano Bivar), MDB (Simone Tebet), PSDB (João Dória) e Cidadania (Alessandro Vieira) prometem anunciar, em 18 de maio, uma chapa única.
E o Ciro Gomes (PDT)? Embora seja inegavelmente capacitado, se ele é contra a Terceira Via, Bolsonaro e Lula, sobra quem para votar nele? Lutando para chegar ao segundo turno, para Ciro, só existe uma Terceira Via: ele. Poderia focar no futuro e ser vice de alguém, mas…
Entre os nanicos, Eymael (PDC) anunciou que vai concorrer à presidência pela sexta vez. De acordo com o ex-deputado federal, as cinco primeiras foram uma preparação. Quem sabe agora vai, né?
Por fim, se nada excepcional ocorrer, esse será o jogo até o final do primeiro turno, dia 2 de outubro. Caso um dos que correm por fora chegue ao segundo turno, aí as cartas serão embaralhadas novamente. Começa tudo de novo.