7 de julho de 2020
Postado por: Alexandre
A pandemia não interrompeu os trabalhos de pesquisa da Epagri com a macroalga Kapaphycus alvarezii, que pode se tornar uma alternativa de renda para os maricutores Santa Catarina, ao lado das ostras, mexilhões e vieiras. Neste período de frio, os pesquisadores estão com cordas de cultivos no mar para observar o efeito do inverno sobre as algas, que sofrem com a baixa temperatura por ser uma espécie tropical.
Segundo o pesquisador Alex Alves dos Santos, que coordena os estudos no Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri (Cedap), a Empresa quer levar para o mar o mesmo sucesso que obteve com as pequenas propriedades rurais em Santa Catarina. “O estado é conhecido pelas pequenas propriedades e pela diversificação da produção. Nós queremos replicar isso no mar, queremos que os maricultores diversifiquem suas produções, que eles possam ganhar dinheiro com ostras, mexilhões e também com algas. Isso protege e qualifica as fazendas marinhas e eleva o lucro desses produtores”, diz.
Por isso a Epagri aposta nessa atividade produtiva, que teve o cultivo comercial em Santa Catarina autorizado neste ano pelo Governo Federal. Da macroalga é extraída uma substância com propriedades gelificante, espessante, estabilizante e emulsificante, muito utilizada em diversas indústrias como farmacêutica, química, alimentícia e têxtil. “Na atual crise provocada pela Covid-19, provavelmente a macroalga não teria problema na comercialização como aconteceu com as ostras e mexilhões, pois elas são prioritariamente destinadas à indústria”, ressalta Santos.
Durante a estação mais fria do ano, os estudos desenvolvidos pela Epagri em parceria com a UFSC, pretendem manter a biomassa das algas, que sofrem com o frio. “Uma das estratégias que está sendo testada para minimizar os efeitos da temperatura é o cultivo abaixo de um metro de profundidade ao invés da superfície, como é comumente praticado. Em profundidades maiores há melhor conforto térmico e menor variação de temperatura, fato que poderá trazer benefícios fisiológicos à alga”, explica o pesquisador.
Outro protocolo quem vem sendo aprimorado é a manutenção das algas em estufas durante o inverno, garantindo biomassa necessária para o replantio de primavera. Santos explica que, após o inverno, o cultivo da alga retorna com força e na primavera a espécie terá biomassa suficiente para a realização de dias de mar, eventos em que a Epagri repassa tecnologias para produtores. “Na sequência dos dias de mar, temos programadas capacitações para produtores e extensionistas. Para isso os pesquisadores estão trabalhando em uma publicação didática que vai servir de apoio técnico a esses cursos”, diz.
“Junto a essas ações vamos estabelecer com os produtores outras estratégias para viabilizar os cultivos no mar, como por exemplo o licenciamento ambiental dos cultivos de cada maricultor, cálculo de custo de implantação desses cultivos, auxílio na busca de linhas de créditos, entre outras ações”.
Todas essas ações são necessárias para que as fazendas marinhas alcancem uma produção já vislumbrada pela pesquisa. Em águas catarinenses, a macroalga pode atingir até cinco ciclos de cultivo, contra sete da região Sudeste. De acordo com o pesquisador, a produção de algas em sistema integrado de cultivo com moluscos (ostras, mexilhões e vieiras) pode atingir um peso úmido de 115,8 mil kg de alga por hectare por ano e uma receita bruta de R$ 52,1 mil anuais, além da receita com comércio dos moluscos.
Estes valores são relativos ao sistema integrado de produção que se pretende adotar em Santa Catarina, onde a macroalga será explorada, inicialmente, como uma espécie secundária e os moluscos como espécie principal. “À medida que a cadeia produtiva for se consolidando e os desafios sendo superados, os maricultores terão plenas condições de decidirem se continuam com o cultivo integrado ou se partem para o monocultivo de algas”, diz Santos.